quinta-feira, novembro 23, 2006

o CASAL (do senhor) VASCO


Capela de Nossa Senhora da Encarnacao (fotografia obtida do site do municipio de Fornos de Algodres.)

Segundo o monsenhor Pinheiro Marques na sua monografia "Terras de Algodres", o toponimo "Casal Vasco" tem que ver com o facto desta povoacao ter tido origem num "casal", ou quinta, propriedade de um tal "senhor Vasco". A ser assim, teria sido na epoca romana ou alto-medieval, no entanto tanto quanto eu saiba, nao existe nenhum documento que possa confirmar esta suposicao.
Nas inquiricoes de 1258 de D. Afonso III nao aparece mencionada esta povoacao, mas isto por si so, nao descarta a existencia desta terra ja nessa altura.
O que sim se sabe, e que nesta aldeia ou casal, assentaram "solar" uns fidalgos vindos de Castela em fins do seculo XIV, de apelido Mendes de "Caceres", (no pais vizinho existe uma cidade e uma provincia, com este mesmo nome) a quem o rei D. Fernando concedeu anos mais tarde, o senhorio das Vilas de Algodres e Penaverde e, as alcaidarias-mores de Penamacor e da Guarda. O primeiro destes "senhores" documentado; foi Alvaro Mendes de Caceres.(NFP, vol. III, pag. 168)

Ora destes fidalgos o mais antigo conhecido, foi Gonzalo de Caceres e, depois dele nao conheco nenhum que tivesse por nome: Vasco, pelo que a ser verdade a tese do monsenhor, so podera ser que estes "Caceres", em vez de terem vindo de Castela, tenham vindo da Viscaia e sejam Bascos ou Vascos, de origem e nao de nome!

Para alem das referencias aos Caceres esta povoacao so aparece documentada em 1525 no "cadastro da populacao do reino" de D. Joao III, tendo nessa altura o toponimo de "Casal Vasio", sera que foi pelo facto destes "Caceres" ja terem abandonado o solar da familia?
De facto ja por essa altura esta familia tinha perdido a varonia, o ultimo documentado foi Simao Cardoso de Caceres em 1520 e, foi ja o referido D. Joao III, que concedeu o senhorio de Algodres e de Fornos aos Noronhas, depois de ter criado o condado de Linhares em seu favor.
De uma linha colateral desta familia que passou a residir em Lisboa, saiu Alvaro Goncalves de Caceres que foi cronista-mor do reino, a quem o rei D. Afonso V concedeu brasao de armas de merce nova em 1459 (DFP D. Luiz de Lancastre Quetzal, Tavora editora 2a. edicao, Lisboa)

Anos mais tarde nao sei precisar quando, os ultimos Caceres ter-se-ao extinguido na familia "Albuquerque", "senhores da Casa da Insua", tendo estes herdado as propriedades, o solar, (onde colocaram o seu brazao, creio que no seculo XVIII) e a capela, passando tambem a usar o apelido "Caceres".

Para alem da familia mencionada, residiram tambem por aqui as familias "Mello e Figueiredo, que tambem eram aparentados com os primeiros; Constituiram um vinculo patrimonial no seculo XVI, na capela de Santo Antonio e Santa Catarina sua propriedade, esta capela presentemente tem o orago de: Senhor do Loureiro ou Santo Cristo dos Loureiros e, a ela me referirei mais adiante.

Nesta aldeia e sede de freguesia, existe vario patrimonio edificado que suscintamente me refiro a seguir.

- Solar dos Caceres; e uma casa muito antiga em granito, com fundacao recuando ao seculo XIV, nela sobresaem as janelas quinhentistas, com a particularidade de todas terem cantaria com lavores diferentes, o ja referido brazao dos "Albuquerques" a cornija rematada por corucheus e, um portal em arco de volta inteira. (presentemente encontra-se bastante arruinada, e a necessitar restauro!)

- Capela da Senhora da Encarnacao; Belissima construcao em granito com ameias, com um campanario romanico a rematar a fachada principal. Nesta capela foi instituido um vinculo patrimonial por Luiz de Caceres em 2 de Setembro de 1481 (*).
Nas paredes exteriores podem ver-se algumas pedras sigladas da epoca medieval.
Presentemente este templo pertence a paroquia, tendo sido cedido pela "Casa da Insua", foi restaurado recentemente e encontra-se belamente conservado.

- Capela do Senhor dos Loureiros; fundada no seculo XVI, foi aqui que os "Melo de Figueiredo" instituiram um vinculo em 21 de maio de 1544 (*), nessa altura tinha como oragos Santo Antonio e Santa Catarina.
Creio que tera passado para a paroquia no seculo XVIII, passando nessa altura a ter o actual Patrono.
A construcao e renascentista com cornija e portal de verga recta, ladeado por duas pequenas janelas emolduradas. Debaixo de uma delas encontra-se uma escultura de uma cabeca humana, ja muito desgastada pelo tempo, que e sem duvida bastante anterior e estranha a capela, devendo ai ter sido agregada na altura da construcao, faria provavelmente parte de alguma escultura pre-romana.

- Igreja Matriz; templo barroco com torre sineira de quatro ventanas, data do seculo XVIII, e tera sido construido sobre o que foi um outro mais antigo. Na construcao resaltam as pilastras, a cornija, o frontao com volutas, os curucheus e, na torre sineira uma escultura de uma cabeca humana de expressao "demoniaca".
O orago: Santo Antonio, creio que tera sido proveniente da antiga capela com aquela denominacao, referida anteriormente, pelo em tempos mais remotos deve ter tido outro.
No interior desta igreja existem alguma lapides sepulcrais, ja com inscricoes bastante erroidas.

- Capela de Nossa Senhora da Graca; Fica situada no "Rossio" e junto a uns freixos seculares. E uma pequena capela renascentista, que datara quando muito do seculo XVII. Tem um pequeno campanario em cantaria e um portal com verga curva.

- Para alem deste patrimonio, encontra-se quase em frente ao solar dos Caceres, uma antiga casa oitocentista de balcao em granito. Nela destacam-se belas portas e janelas emuldoradas em cantaria, a pedir uma restauracao cuidada.
Tambem nos limites desta freguesia encontam-se duas sepulturas escavadas na rocha, sendo uma delas antropomorfica.

- Ainda do mencionado nesta freguesia existe a antiga Quinta das Relvas, com uma casa senhorial e capela privativa, nao consegui descobrir a que familia pertenceu, embora ja bastante descaraterizada, foi recentemente recuperada para turismo de habitacao.

(NFP: Nobiliario das Familias Portuguesas)
(DFP: Dicionario das Familias Portuguesas)
(*): Documentos em posse do senhor Francisco da Costa Cabral, que gentilmente me cedeu esta informacao.

5 comentários:

... disse...

Vim vindo na teia ... que é como quem diz, vim de um Blog onde se fala de cultura e afins e venho dar com o teu onde se fala de afins e cultura ...
Nos "afins" falo de fotografia, uma das minhas paixões.

Fornos de Algodres? Não, meu amigo, não conheço e lamento, porque fiquei cheia de água na boca.

Por isso, pelo que li, e pela viagem que me facultaste, o meu muito obrigada e cá voltarei, se não te importares...

Um abraço
Mel

www.noitedemel.blogs.sapo.pt e lá os restantes ...

(este teu blog não "me comporta" ) ... e por isso deixo o link ...

O que fica registado está em desuso...

Al Cardoso disse...

Cara Aveneziana:
Pois bem vinda e volta sempre, tambem vou dar um volta pelo teu, depois digo algo.

Um abraco fornense.

Anónimo disse...

Excelente evocação de Casal Vasco, caro Albino.
Embora as Inquirições de 1258 não refiram o Casal Vasco, como diz não é de excluir que a terra já fosse povoada, pelo menos, desde a alta idada média. Nos seus limites, como aliás por todas as Terras de Algodres, existem sepulturas escavadas na rocha, atribuíveis a esse período e o Casal Vasco sempre integrou o termo do concelho de Algodres, não obstante a sua localização algo periférica, o que permite supor que então já fosse povoado, à semelhança da generalidade Terras de Algodres, que as ditas Inquirições registam (Fornos, Matancia, Infias, Algodres, Figueiroo, Cortizao, Soveral, Muxagata, Juncaes ("de termino de Liares"),...
Quanto aos Cáceres e às várias doações régias que, entre os sécs. XIV E XVI, tiveram por objecto os direitos reais sobre Algodres, está ainda por fazer o estudo dos documentos existentes por forma a esclarecer o respectivo alcance. A GEPB, vol. 5, p. 341, refere que Álvaro Mendes de Cáceres veio desterrado para Portugal e “o rei D. Fernando lhe fez mercê, de juro e herdade, dos julgados de Algodres e Fornos (...) por carta de 3 de Janeiro do ano de 1372”. Esta mercê abrangeria o senhorio e rendas da terra, ou apenas os rendimentos dos "julgados"? Certo é que o senhorio de Algodres foi objecto de doações posteriores. Julgo que esta parte da história de Algodres carece ainda de ser convenientemente esclarecida. Mais uma vez, parabéns por esta entrada. Um grande abraço,

Anónimo disse...

Caro Sr. Albino, gostaria que me fornecesse os documentos que comprovam que a Capelo de N. S. Loureiros teve outra invocação dado eu ser do Casal Vasco.
o meu email é aoldomingues@iol.pt
Abraço e obrigado.

horus disse...

Gostava que me dissesse o que tem a quinta das relvas de turismo de habitação.
A mim, disseram-me que os Caceres eram protestantes, mas as suas fontes devem ser mais fidedignas que as minhas(tou a brincar com a parte dos protestantes). A parte "disseram-me" não tem lógica nem fundamento cientifico, assim como as suas afirmações quando não têm fontes indicadas, fontes dignas de ser crediveis. Eu ia pensando em esquecer a parte de voce escrever um livro...